Discutirei aqui o acontecimento dessas duas greves, no campo da história urbana, em seus planos crítico e historiográfico, colocando em relevo o papel que as mulheres desempenharam na organização de ambos os movimentos, pois, à medida que os estudávamos, vía- mos emergirem registros de uma singular atuação feminina sobre os espaços que davam suporte à ação grevista. A Greve dos Negros Ganhadores, em 1857 na Bahia, foi primeiro movimento grevista a envolver um setor particularmente sensível da classe trabalhadora no Brasil monárquico, tendo sido “greve” no exato sentido da paralisação do trabalho que em nada se diferenciou dos padrões de mobilização da classe operária oitocentista na Europa. Num momento em que o plano do Estado era “desafricanizar a ci- dade”, conforme anota João José Reis, dá-se a suspensão do trabalho africano – não apenas o escravizado – contra o Estado. A Greve de Contagem se desenrolou no município da região metro- politana vizinho a Belo Horizonte, numa cidade distrito industrial que atingiu sua capacidade total em 1966, com 105 indústrias implanta- das. O pleno funcionamento da Cidade Industrial, entretanto, não corrigiu situações de trabalho muito precárias, desde o maquinário, que não era avançado, até a tecnologia em uso, muito atrasada. As mulheres constituíam grande parte daquela mão de obra operária, atuando principalmente nas indústrias têxteis, alimentícias, eletrôni- cas e em pequenas metalúrgicas, o que demonstra vividamente uma divisão sexual do trabalho (NEVES, 1994), uma vez que os homens estavam empregados nas indústrias de cimento, nas siderúrgicas e metalurgia pesada.